quinta-feira, 7 de novembro de 2013

LUTAR PELO POVO PRETO OU PELO SER NEGRO? O MOVIMENTO PRETO NÃO É PARA TODOS OS NEGROS.

MARCELO SILLES
ASSISTENTE SOCIAL COM BACHAREL DA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE-RJ & RAPPER.

Cotidianamente nos deparamos com negros e negras que odeiam e têm total horror a sua condição de devir do ser negro. Não é exagero afirmar que os mesmos se pudessem apanhavam uma borracha e apagavam com ódio e raiva a cor símbolo, segundo eles, da sujeira, da feiúra, da exclusão, da marginalização. “Um preto não quer ver um outro preto bem” já afirmava o ilustre rapper MV Bill. ´Eu me relacionar com preto, preta já basta eu´. ´Eu me relacionar com preta, preto já basta eu´. ´Vou me casar com um branco pro´s meus filhos nascerem com cabelo bom´.

A difícil aceitação e convívio social por causa da cor reforçam constantemente o mito da democracia racial. Os negros violentados pelos açoites midiáticos e verbais, oprimidos pela descendência escravocrata e depressivos moralmente por se sentirem negligenciados pela vida que os colocou nessa condição inabrupta de criaturas motivadoras de chacotas e avacalhados por piadas racistas, buscam cada vez mais padronizarem-se ao arquétipo pseudo-europeu. O mulatismo e o morenismo são mecanismos de refúgio da barbárie de traços selvagens de quem já nasce perseguido. Portanto, reproduzir-se mestiçamente no país dos heróis pseudo-brancos europeus que se chama Brasil, embrulhar-se entre as raças é uma das formas de aliviar essa perseguição causada pela dor da cor, como dizem a cor do pecado.

Agora militantemente desabafando, hoje na diáspora africana contemporânea compensa sacrificarmos nossa luta cotidiana, vivência segregacional por algumas meras jabuticabas que já escolheram os seus lados? Nós que levantamos a bandeira de corpo e alma por afirmação de uma raça preta de cor preta, descendemos de nossos ancestrais africanos escravizados, temos orgulho batemos no peito e gritamos para o mundo inteiro ouvir, compensa lutarmos por uma unidade negra que inclui jabuticabas?

Na minha opinião afirmo que não. Já to no basta. Basta lutar por jabuticabas que apunhalam pelas costas um preto ou uma preta. Basta de defender jabuticabas que riem e caçoam de nós pretos quando nos orgulhamos de vestirmos preto por dentro e por fora. Basta de nos comovermos por jabuticabas oportunistas que não fazem nada pela causa e quando conseguimos querem usufruir do que conquistamos com nosso suor em prol de uma unidade preta. Basta de defendermos jabuticabas, neguinhos e neguinhas que criminalizam e marginalizam as raízes africanas em suas culturas, vestuários, culinárias, danças etc. e abençoam e frequentam as festas dos descendentes europeus e acham lindo suas culturas, vestuários, culinária, dança etc. identificando-se como brancos que são.


Basta. Podem dizer que são vítimas como nós por conta desse longo processo de escravização, exploração, desvalorização, usurpação do povo negro, mas quanto mais discutimos essa questão, mas fortalecemos a ideologia mestiça do branco brasileiro em aceitar a sua política sistêmica de dividir para conquistar. O fato é que já somos divididos. Portanto temos que fazer pelos nossos, quem ta na luta, na labuta, na diáspora, quem acredita e tem fé. Temos que ser ardiloso pelos nossos, adaptarmos para melhor lutar pelos nossos, pois no terreno que tivermos nunca devemos esquecer de onde viemos e quem somos. Precisamos nos conscientizar de que uma unidade negra uniforme não convém, temos que ser pelos nossos e quando na conquista fazer pelos nossos, O POVO PRETO.