sexta-feira, 28 de novembro de 2014

O contemporâneo globalizado contrapondo o folclore

Bacharel em Serviço Social pela 
Universidade Federal Fluminense-UFF/Campos-RJ
O nicho de algumas antiguidades mesclada ao asco da nostalgia faz-se repensar a intencionalidade e a apropriação do antigo como forma de resgatar um abastado campo social, com um poder econômico altivo de representatividade seletiva. A que ponto o imaterial popular ao associar-se aos rompantes detentores do poder perde a sua essência e identidade?
A epígrafe apresentada nos convida a uma reflexão acintosa acerca dos cárceres culturais-populares e os seus resgates por mãos muitas vezes longe de seus habitat. A posteridade do conhecimento radica-se em seu griot nas culturas afro-diásporas, por exemplo, e se essa posteridade sofre uma metamorfose através de outros elementos que não a compunham racialmente, o resultado desse resgate é permanecer inexpressivo mais folclórico a manifestação do ser e o seu controle para que não se crie uma ruptura com o passado afim de que seus verdadeiros donos não se atrevam a ascender como cidadãos nessa sociedade.
O mote denuncia o propagandeamento da folclorização das massas populares, em detrimento de resposta a contemporaneidade e globalização dos sentimentos políticos e consciência dos mesmos. O que isso significa? Enquanto as culturas populares em seu resgate e valorização não se alçarem em debandar para outros campos sociais de conscientização, politização e movimento elas merecem todo o apoio e aparelhamento aquartelado das classes abastadas que indicam um norte para que as mesmas periodizem somente a cultura como diversão, entretenimento de um grupo de classe e cor que representam uma classe dominante.
 Desvelar as culturas populares, não podemos nos tergiversar na ignorância de acharmos que estamos sendo beneficiados pelos rompantes nostálgicos representantes da classe dominante, e trazê-la para um debate de inserção e contrapondo a cultura da classe dominante que sempre quis e quer nos docilizar através de nossas próprias culturas é o real propósito. Trata-se de uma catarse significativa em relação à destruição dos membros imposta pelo opressor.
A contemporaneidade fez reacender antigas feridas descentralizou idéias e mitos populares e apresentou a democracia como realmente ela é democraticamente-ditatorial-excludente. A globalização expandiu o espaço, diminuiu distância entre povos e conhecimentos e foi paradoxalmente a válvula de escape para as conscientizações e surgimentos das democracias.  Nesses meios de surgimentos de conscientização e conhecimento, que surge o debate de, até que ponto as culturas populares deixam de serem identitárias, promovedora da inserção e conscientização social para se tornarem folclóricas e produtos de entretenimento de controle das grandes massas?
A contemporaneidade junto à globalização trouxe novos elementos que despertaram o senso critico e a criticidade automotora de grupos oprimidos que antes apenas celebravam suas festas e costumes, mas que não percebiam a sua real valorização no cerne da sociedade envolto de seus projetos enquanto cidadãos detentores de direitos sociais e econômicos. Junto a tantos elementos vem a responsabilidade de se manter sempre viva a cultura que celebra a ancestralidade e identidade de um grupo, de um povo, fazer com que a mesma seja o âmago de gerações vindouras e contribua para a formação de cidadãos de bem e consciente de seu valor na sociedade e na detenção de seus direitos é uma das grandes responsabilidades. O folclore é lindo, mas deixa de ser lindo quando o mesmo passa a servir apenas de espetacularização e divertimento para um controle de massas. Celebremos mas que não percamos a essência.