terça-feira, 9 de agosto de 2016

Marcha do Orgulho Crespo toma parte da Paulista neste domingo (7)

Segunda edição do movimento, em defesa da cultura negra - e dos cabelos crespos -, reuniu cerca de 300 pessoas

A marcha na Paulista, que reuniu manifestantes pró-cultura negra (Foto: Divulgação)
Parte da Avenida Paulista foi tomada neste domingo (7) por cerca de 300 pessoas - a maioria mulheres - que participaram da Segunda Marcha do Orgulho Crespo, movimento em defesa da cultura negra.

Organizado pelo projeto Hot Pente e pelo Blog das Cabeludas, seu objetivo é fortalecer a estética afro-brasileira como símbolo de identidade.
O resultado foi um show de penteados afro, de várias cores e tamanhos.
Mulheres com seus penteados afro pela avenida (Foto: Divulgação)
Cena da marcha: movimento pacato e show de penteados (Foto: Divulgação)
O grupo se reuniu às 10 da manhã no vão livre do Masp e, de lá, seguiu para o Centro Cultural São Paulo, onde estavam previstos mesas redondas sobre o tema e shows das rappers MC Soffia e Tássia Reis.
FONTE:http://vejasp.abril.com.br/materia/marcha-do-orgulho-crespo-toma-parte-da-paulista

ESTILO GANGSTA

Gangsta: Retrata assuntos ligados ao crime, drogas, acerto de contas, lei das ruas, polícia, bandido, favela e etc. A maioria das musicas de rap gangsta possui um ritmo mais lento, batidas pesadas com predominância de bumbo e baixo em relação aos outros instrumentos. Existem raps gangstas com ritmo acelerado também, mas o peso, o assunto e a sonoplastia de tiros, sirenes e outros elementos são características próprias desse estilo. Apesar de não conter um tom de ironia e sim um discurso áspero e direto, o estilo das letras pode ser comparado a um samba de raiz de "Bezerra da Silva". É uma linguagem mais "malandreada" e com várias gírias. O ritmo é bem envolvente tão quanto um "funk" ou um "soul music". Os temas retratam o crime de uma forma geral alertando e denunciando os problemas ocorridos na periferia no intuito de que não permaneçam encobertos e sem solução. Princípios de sobrevivência no gueto e em qualquer outro lugar como o respeito, sinceridade, atitude são lembrados constantemente e colocados como "lei". Problemas de repressão policial, tráfico, diferenças sociais, racismo e outros são colocados de forma direta no rap gangsta. Em casos isolados, algumas letras atacam outros grupos, estão relacionadas abrigas de gangs, situações vividas na noite, nos becos e etc. No rap cada um expressa o que vive. Quem ouve, tira suas conclusões e absorve o que lhe convém.
Parte superior do formulário

Fonte: http://estilosderap.blogspot.com.br/

ASA: APLICATIVO INOVA AO ENSINAR IORUBÁ PARA CRIANÇAS

O Asa foi criado para ensinar Iorubá de uma maneira divertida e contribuir para a preservação e difusão da língua falada pelo segundo maior grupo étnico da Nigéria. (Foto: Reprodução)


Lá se vão 16 anos desde o início do século XXI. Para alguns o novo milênio significaria o fim da humanidade, contudo a nova era se mostrou um marco definitivo no avanço e consolidação da tecnologia como ferramenta essencial para a existência humana. O período se tornou ainda mais forte com o advento das redes sociais e com a chegada dos chamados telefones inteligentes ou smartphones, que facilitaram e muito a vida de todos ao redor do planeta.


Em África não foi diferente, muito pelo contrário, o boom tecnológico foi ainda mais forte já que o continente negro saltou diretamente para o tempo da comunicação móvel. Com a crescente urbanização de metrópoles como Lagos, na Nigéria e Nairóbi, no Quênia, os aparelhos celulares são utilizados para muito além de troca de mensagens e navegação em páginas do Facebook. Por exemplo, até 2005 cerca de 81% da população do Quênia não tinha conta em bancos. Problema sério? Sem dúvidas, contudo apoiado nos 27% de habitantes com acesso à internet pelo celular, foi criado o MPesa, sistema que proporciona a realização de transações bancárias pelos aparelhos móveis. Para se ter uma ideia do impacto, o MPesa possui hoje cerca de 20 milhões de usuários.


No mesmo caminho está a Nigéria, um dos centros tecnológicos de África. É de lá que emergem iniciativas que aliam tecnologia com desenvolvimento social. Um dos muitos casos é o Asa (fala-se Asha), desenvolvido pela Genii Games para ensinar Iorubá de uma maneira divertida e contribuir para a preservação e difusão da língua falada pelo segundo maior grupo étnico do país. Criado por Adebayo Adegbembo, formado pela Universidade de Lagos, o aplicativo reúne inúmeros jogos com lendas, palavras e ilustrações de elementos formadores da cultura Iorubá.

Como você sabe, as religiões de origem Iorubá são muito fortes no Brasil e por isso incorporamos símbolos destes cultos, como o orixá Sango (Xangô, em português). (Foto: reprodução) 


“A Genii Games trabalha para divertir e promover a cultura africana para crianças. Com isso ajudamos a preservar valores fundamentais como a língua e a ética entre os mais jovens. Fazemos isso de diferentes formas, inclusive com o Asa. Nós utilizamos jogos, animações, gráficos coloridos, voz e som para conquistá-los. Temos a tecnologia e seus avanços diários como principal aliada,” explica Adebayo em entrevista ao Afreaka.


A Nigéria possui cerca de 521 línguas listadas, mas em função do domínio exercido pelos colonizadores do Reino Unido, o inglês se tornou a língua oficial e com isso o número de crianças familiarizadas com o Iorubá foi diminuindo com o passar do tempo, o que acendeu o sinal amarelo para pessoas como Adebayo.


“A ideia de criar o Asa surgiu ao acompanhar o crescimento de minha sobrinha e dos vizinhos pequenos, que cresciam cada vez menos interessados em nossas culturas nativas. Eu concluí que a melhor forma de estimulá-los era criar algo divertido e que os seduzisse. Daí nasce o Asa, que reúne todos estes elementos que as crianças adoram”, conta.

O Asha foi criado por Adebayo Adegbembo, formado pela Universidade de Lagos. (Foto: Reprodução) 


Conexão com o Brasil

A África como um todo é um dos pilares na formação da cultura brasileira, entretanto foram os Iorubás vindos de países como o Benim, Nigéria e Togo que mais deixaram suas marcas por aqui, especialmente na Bahia. Um dos principais elos entre eles e os brasileiros foi sem dúvida a religião, em especial o Candomblé, o que fez com o que o Asa se tornasse um sucesso com os brasileiros.


“Deixando de lado as óbvias conexões entre Brasil e África, especialmente na cultura, o Asa caiu no gosto do povo por tornar o aprendizado da língua Iorubá divertido. Como você sabe, as religiões de origem Iorubá são muito fortes no Brasil e por isso incorporamos símbolos destes cultos, como o orixá Sango (No Brasil, Xangô). Eles são destravados sempre que o usuário termina um jogo que tenha relações com o tópico. Aliás, em um futuro próximo queremos traduzir o aplicativo para o português”, explica Adebayo Adegbembo.


Tecnologia e desenvolvimento social, é desta forma que Adebayo e outros entusiastas africanos contribuem para a preservação de culturas, costumes e o estreitamento das relações entre o Brasil e o continente negro.


“A cultura brasileira é muito rica e parecida como que temos aqui na Nigéria. Nós temos histórias em comum desde o tempo da escravidão. Durante o Festival Osun Osogbo eu conversei com um grupo de brasileiros que dividiam de nossas tradições e estavam felizes de expressá-las. Pessoalmente tenho muito material sobre as trocas que tivemos. Pra mim seria um prazer experienciar com profundidade esta conexão”.


*Lembrando que o Asa está disponível para download nas plataformas Android e Apple.


Para baixar e saber mais: http://www.geniigames.com/games/yoruba101/

FONTE:http://www.afreaka.com.br/notas/asa-aplicativo-inova-ao-ensinar-ioruba-para-criancas/

ALTHEA GIBSON - Carolina do Sul - EUA


Primeira tenista e golfista profissional americana e a primeira atleta negra a ganhar visibilidade internacional no tênis.
Althea Gibson nasceu em 25 de agosto de 1927, na cidade de Silver em Clarendon County , Carolina do Sul . Filha de Daniel e Annie Sino Gibson, que trabalhavam como meeiros em uma fazenda de algodão. A Grande Depressão (1929) atingiu primeiro as zonas rurais, sobretudo os agricultores do sul, do que o resto do país, e por isso, em 1930, a família Gibson se muda para o Harlem , onde três irmãs e irmão de Althea nasceram. O apartamento deles, localizado em um trecho da rua 143, mesma área do Police Athletic League, que durante o dia formavam barricadas para que as crianças da vizinhança pudessem praticar esportes organizados. Althea Gibson rapidamente se tornou proficiente em paddle , e em 1939, com a idade de 12, ela foi campeã de padel das mulheres de Nova Iorque.
Em 1940, um grupo de vizinhos de Gibson fizeram uma coleta para financiar uma sociedade júnior e aulas na Cosmopolitan Tennis Club no Sugar Hill, setor de Harlem. Em 1941, ela entrou e venceu-o seu primeiro torneio, o American Tennis Association (ATA) - Campeonato Estadual de Nova York. Ela ganhou o campeonato nacional ATA na divisão das meninas em 1944 e 1945, embora tenha perdido a final em 1946, ela ganhou o primeiro de dez títulos de mulheres ATA nacionais em linha reta, em 1947. "Eu sabia que eu era uma estranha, menina talentosa, pela graça de Deus", escreveu ela. "Eu não preciso provar isso para mim mesmo. Eu só queria provar aos meus adversários".
O sucesso de Althea nos jogos da ATA, chamou a atenção de um olheiro, Sr. Walter Johnson , um médico de Virginia, ativo na comunidade de tênis afroamericano. Johnson viria pratonar a orientar também a Arthur Ashe (também negro ) assim como Althea Gibson. Ela então, ganhou acesso a um ensino mais avançado e a novas competições importantes e, mais tarde, para a United States Tennis Association (USTA). Em 1946, ela se mudou para Wilmington, Carolina do Norte , sob o patrocínio de um outro médico e tênis ativista, Hubert A. Eaton e se matriculou em Williston alta School. Em 1949 ela se tornou a primeira mulher negra, e o segundo atleta negro (após Reginald Weir ), a jogar no Campeonato National Indoor da USTA, onde ela alcançou as quartas-de-final. Mais tarde, naquele ano, ela entrou Florida A & M University em um bolsa de estudos integral.
Em 1956, ela se tornou a primeira pessoa negra a vencer um título de Grande Slam ( Aberto da França). No ano seguinte em 1957 ela ganhou mais 2 importantes torneios de grande importância; Wimbledon e U.S. Nationals( precursor do US Open). No ano seguinte em 1958 ela novamente vence ambos e é eleita a atleta feminina do ano pela imprensa especializada da época. Ao todo ele ganhou 11 torneios de Grand Slam. Ela entrou para o Hall da fama do tênis internacional bem como para o Hall da fama internacional das esportistas femininas. Em 1960 ela também tornou-se a primeira atleta negra a competir na rodada profissional de golfe profissional.
Althea venceria o Grand Slam, 15 anos antes de outra mulher negra - Evonne Goolagong , em 1971, e 43 anos antes de outra mulher Afro-Americana, Serena Williams , venceu seu primeiro de seis US Opens, em 1999, Serena Williams fez uma carta e uma lista de perguntas para Althea Gibson. A irmã de Serena Venus em seguida, ganhou back-to-back títulos em Wimbledon eo US Open em 2000 e 2001, repetindo a realização de 1957 e 1958 de Althea Gibson.
No final de 1958, Althea já havia conquistado 56 títulos de simples e duplas nacionais e internacionais, incluindo 11 campeonatos do Grand Slam, Gibson se aposentou do tênis amador.
Antes da Era Open não havia nenhum prêmio em dinheiro em grandes torneios e contratos publicitários diretos eram proibidos. Os jogadores foram limitados a ajudas de custo escassos, estritamente regulamentados pela USTA. "A verdade, para ser franca, é que minhas finanças estavam de partir o coração", escreveu ela. "Ser a rainha do tênis é tudo muito bom, mas você não pode comer uma coroa ou uma medalha. Também é impossível enviar ao Internal Revenue Service (Receita Federal) um trono preso aos meus formulários de impostos. O senhorio e o dono da mercearia e o cobrador de impostos não são nada engraçados .:. Eles querem o dinheiro bruto ... eu reino sobre uma conta bancária vazia, e jogando tênis amador, não tenho como fazer meus depósitos, pagar minhas contas e sobreviver ". Althea conseguia ganhar bem pouco com promoção de eventos e em 1959, ela chegou a assinar contato para jogar uma série de partidas amistosas contra Karol Fageros, no Harlem Globetrotter, em jogos de basquete. Quando a turnê acabou, ela ganhou os títulos de simples e duplas no Pepsi Cola World Pro Tennis Championships em Cleveland , mas recebeu apenas US $ 500 em dinheiro.
Em 1964, com a idade de 37, Althea Gibson tornou-se a primeira mulher Afro-americano a participar da Ladies Professional Golf Association tour (LPGA), porém, a discriminação racial continuou a ser um problema: muitos hotéis ainda excluíam os negros, e em muitos clubes no sul, e alguns no norte, recusavam a deixá-la para competir. Quando conseguia competir, foi muitas vezes forçada a vestir-se para torneios no carro dela, porque não permitiam a sua entrada nos vestuários e ou dependências do clube. Embora fosse uma dos 50 maiores ganhadores de dinheiro do LPGA por cinco anos, e ganhou um carro em um dos torneios, seus ganhos nunca ultrapassou US $ 25.000. Ela conseguiu algum dinheiro com os vários acordos de patrocínio e com o apoio de seu marido, William Darben, irmão do melhor amigo e companheiro tenista Rosemary Darben, com quem se casou em 1965 (e divorciaram-se em 1976).
Em 1980, Althea Gibson se tornou um dos primeiros seis convocados para os Sports Hall Internacional da Mulher of Fame , colocando-a ao lado de pioneiras como Amelia Earhart , Wilma Rudolph , Gertrude Ederle , Babe Didrikson Zaharias , e Patty Berg . Outros induções incluído o Lawn Tennis Salão Nacional de Fame, o International Tennis Hall of Fame , o Salão Florida Sports of Fame , os atletas negros Hall of Fame, o ginásio de esportes da Fama de Nova Jersey , o Salão de Nova Jersey of Fame , o Internacional Scholar-Atleta Hall of Fame, e Hall Internacional da Mulher of Fame.
Em 1991, Gibson se tornou a primeira mulher a receber o Prêmio Theodore Roosevelt , a mais alta honraria da National Collegiate Athletic Association ; ela foi citada como "simbolo as melhores qualidades de excelência competitiva e espírito esportivo, e por suas contribuições significativas para expandir as oportunidades para as mulheres e minorias através do esporte". O Sports Illustrated para as Mulheres nomeou a sua lista das "100 Maiores Mulheres Atletas do Mundo ". Em agosto de 2013, o Serviço Postal dos Estados Unidos emitiu um selo postal em homenagem Althea Gibson, o 36 em sua série Black Heritage.
Em uma análise histórica sobre as 1.977 mulheres nos esportes, o colunista William C. Rhoden, do New York Times escreveu: "Althea Gibson e Wilma Rudolph são, sem dúvida, as forças de atletismo mais significativos entre as mulheres negras na história do esporte. Enquanto realizações de Rudolph trouxe mais visibilidade para mulheres como atletas ... realizações de Althea eram mais revolucionário por causa do impacto psicossocial na América negra. Mesmo para os negros que não tinham a menor idéia de onde ou o que era Wimbledon, sua vitória, como Jackie Robinson no beisebol e Jack Johnson's no boxe, provou mais uma vez que os negros, quando dada a oportunidade, poderia competir em qualquer nível na sociedade americana ".
Na noite de estréia de os EUA Open 2007, o 50 º aniversário de sua primeira vitória em seu antecessor, o Campeonato dos Estados Unidos, em 1957, Althea Gibson foi nomeada para os EUA Open Court of Champions. "Foi a dignidade silenciosa com que Althea elevou-se durante os dias turbulentos da década de 1950. Ela foi realmente notável ", disse o presidente da USTA Alan Schwartz, na cerimônia. "Seu legado ... vive não só nos estádios de torneios profissionais, mas também em escolas e parques em todo o país. Toda vez que uma criança negra ou uma criança latino-americana ou um filho islâmico pega uma raquete de tênis pela primeira vez, Althea toca outra vida. Quando ela começou a tocar, menos de cinco por cento dos recém-chegados de tênis foram minorias. Hoje, cerca de 30 por cento são minorias, dois terços dos quais são Afro- americanos. Este é o seu legado ".
Cinco troféus de Wimbledon de Gibson são exibidos no Museu Nacional de História Americana do Smithsonian Institution . O seniors torneio Althea Gibson Cup é realizada anualmente em Croácia , sob os auspícios da Federação Internacional de Tênis (ITF). A Fundação Althea Gibson identifica e apoia golfe e tênis jogadores talentosos que vivem em ambientes urbanos.
Em setembro de 2009, Wilmington, Carolina do Norte nomeou sua nova escola de tênis intitulada comunidade do Complexo Althea Gibson Tênis em Empie Park. Outras instalações de ténis com o seu nome incluem Manning High School (perto de sua terra natal, em Prata, Carolina do Sul), o Tennis Center Family Circle em Charleston, SC , Florida A & M University, e Branch Brook Parque em Newark, NJ .
Em 2012, uma estátua de bronze, criada pelo escultor Thomas Jay Warren, foi dedicado à sua memória no Branch Brook Park.
"Espero que eu tenha conseguido apenas uma coisa", ela escreveu uma vez, "que eu tenha sido um exemplo para o tênis, e ao meu país". lê-se a inscrição na sua estátua em Newark, 'Althea Gibson certamente atingiu esse objetivo'
Althea Gibson faleceu em 28 de setembro de 2003.
"Não tive a oportunidade de conhecer Althea pessoalmente, mas eu li um monte de livros sobre ela para um projeto escolar em 1997, e ela me respondeu as perguntas via fax. Desde então, sempre sonhei em alcançar o mesmo nível que Althea. Sinto-me feliz por ter a oportunidade de jogar no Us Open (2007), onde ela jogou... Althea é minha inspiração, me faz feliz e animada por ser negra." Serena Willians - tenista afro americana.
FONTE:https://www.facebook.com/389509127799076/photos/a.390322004384455.92782.389509127799076/708975155852470/?type=3

A MARCA

Por Walter Passos
O povo preto possui uma marca
Que entorpece o cérebro,
Queima o cabelo,
Adoece o coração com hipertensão,
Cria pedregulhos nos rins,
Incendeia o fígado,
Enfraquece os ossos,
Derrama quilos de açúcar na boca,
Enlouquece o pâncreas,
O sangue fica glicosado.
Embranquece o corpo
Pelo vírus
Do clareamento da pele.
A marca,
Maldita marca,
Forjada no cristianismo
Tenta aniquilar o ser integral africano.
O ÒRÍ sofre!
Não existe marca de Caim,
É o racismo!

ADHEMAR FERREIRA DA SILVA - São Paulo - Brasil

Primeiro Bicampeão Olímpico do país, criou "A Volta Olímpica", escultor, adido cultural na Embaixada de Lagos, Nigéria. Advogado e Ator.
"Achei a palavra atleta bonita decidi que queria ser um"
Adhemar nasceu em 29 de setembro de 1927, em São Paulo. Filho único de um ferroviário, Antonio Ferreira da Silva, e de uma lavadeira, Augusta Nóbrega da Silva, Adhemar era um negro magro, com pernas que ocupavam 1,08 metro em um corpo com 1,78 metro de altura. Além de ser o único atleta a ganhar para o país duas medalhas olímpicas de ouro em duas edições consecutivas dos Jogos, ele foi também o precursor do tripé vencedor do salto triplo brasileiro, que inclui os recordistas mundiais Nelson Prudêncio (1968) e João Carlos de Oliveira, o João do Pulo (1975).
Sua primeira competição foi no Troféu Brasil em 1947, obtendo a marca de 13,05 metros. É pentacampeão sulamericano e tricampeão pan-americano (1951, 1955 e 1959). Venceu o campeonato luso-brasileiro, em Lisboa em 1960. Foi dez vezes campeão brasileiro, tendo mais de quarenta títulos e troféus internacionais e nacionais.
Adhemar não conseguiu um bom resultado nos Jogos de Londres, ficando apenas em 14º lugar. Mas nas Olimpíadas de Helsinque, na Finlândia, em 1952, quando ele entrou na pista para disputar o salto triplo, não imaginava bater o recorde mundial que na época era de 16 metros, muito menos repetir o feito por quatro vezes na mesma tarde. Saltou 16,05 m, 16,09 m, 16,12 m e 16,22 m. Pela primeira vez, um atleta deu uma volta olímpica na pista, para ser aplaudido de perto pelo público. Antes da prova, ele pediu à cozinheira finlandesa, que conhecera, um prato especial para sua volta: bife com salada. Ao voltar, Adhemar encontrou o prato e um bolo com a inscrição "16,22".
O Brasil esperou 32 anos para celebrar um novo campeão olímpico e ele veio no salto triplo. Adhemar Ferreira da Silva entrava para a história do esporte olímpico do Brasil e inaugurou a dinastia do país que durou 28 anos. Adhemar ganhou a medalha de ouro na prova e quebrou três vezes o recorde mundial. Após a prova ele retribuiu o carinho do público finlandês e deu uma volta pelo estádio olímpico agradecendo o apoio. Surgia assim 'A Volta Olímpica'
Adhemar costumava dizer que “o homem, quando vem ao mundo, não sabe para o que vem ou para onde vai”. E que por isso, graças ao esporte, ele havia ido longe. “Consegui escapar das drogas e da violência”, comentou.
Não era só um atleta de ponta, quebrou recordes em todos os sentidos. Um atleta-Intelectual, falava 6 idiomas fluentemente. Depois da consagração nas Olimpíadas, estudou Direito na Universidade do Brasil e Educação Física na Escola do Exército (ambos os cursos concluídos em 1968) e Relações Públicas na Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero (1990). Foi locutor da Rádio Panamericana, atual Jovem Pan, de São Paulo e jornalista do Última Hora, também na capital paulista. E até ator, na peça Orfeu da Conceição (1960), de Vinicius de Moraes, e no filme Orfeu do Carnaval, que ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes e o Oscar de Melhor Filme em língua não-inglesa em 1959. Chegou também a exercer a função de adido cultural do Brasil em Lagos, na Nigéria, entre 1964 e 1967.
Curiosidades:
- Em seu retorno ao Brasil, o jornal A Gazeta Esportiva, de São Paulo, promoveu uma subscrição pública para dar ao campeão olímpico uma casa de presente. O Comitê Olímpico Brasileiro, no entanto, advertiu Adhemar de que se ele aceitasse a homenagem poderia comprometer sua carreira olímpica, pois aquilo caracterizaria profissionalismo. O jornal teve, então, que devolver o dinheiro dado a cada um dos contribuintes. Em 1953, nova polêmica: funcionário público de São Paulo, Adhemar teve um pedido de licença para competir no Chile, negado pelo prefeito Jânio Quadros. Acabou viajando assim mesmo, mas perdeu o cargo em um processo administrativo.

Apesar de todos os seus feitos, Adhemar se sentia magoado com a falta de reconhecimento brasileiro. Ainda assim, mesmo com toda a glória internacional, quando morreu, internado em um hospital com problemas pulmonares, no dia 12 de janeiro de 2001, aos 73 anos, Adhemar ainda reivindicava o reconhecimento em seu próprio país.
“No Brasil, minhas duas medalhas de ouro valem lata”, chegou a dizer a VEJA, às vésperas da Olimpíada de 1996, quando a revista reuniu atletas brasileiros do passado e do presente para a foto da capa da edição especial dos Jogos daquele ano.
Aos 66 anos, recebeu o título de “Herói de Helsinque”
O Criador da Volta Olímpica:

FONTE:https://www.facebook.com/389509127799076/photos/a.390322004384455.92782.389509127799076/1074344782648837/?type=3

MC Soffia é elogiada pela mídia internacional

Garota de 12 anos foi destaque na web por seu estilo e temática de suas canções


A MC Soffia, que participou da apresentação na abertura das Olimpíadas Rio 2016 ao lado de Karol Conka, ontem (05), foi elogiada pelo site Hollywood Life. O trabalho da garota de 12 anos foi comparado ao de nomes como Drake e Eminem.
 
O jornal britânico The Guardian também falou bem de Soffia. A garota bombou na web. Os internautas elogiaram o estilo de Soffia, além da temática de suas canções, que falam sobre o empoderamento feminino.

FONTE:http://www.otempo.com.br/hotsites/rio-2016/mc-soffia-%C3%A9-elogiada-pela-m%C3%ADdia-internacional-1.1350671

Letieres Leite: ‘Já vi bloco recusar cantor por dizer que parecia macaco’

Comemorando 10 anos de Orkestra Rumpilezz com 

“A Saga da Travessia”, o maestro fala sobre o disco novo, 

racismo e internet, com a franqueza de sempre

O maestro Letieres Leite não atinge 1,70m de altura, mas em compensação sua presença transborda. Não há como não notá-lo, onde quer que seja. Lembra de Romário fazendo aquele gol de cabeça contra a gigante defesa sueca em 94? Letieres é assim. Versátil, interessado em música de todo tipo (“ouço de Ramones a Beethoven”) e em todo tipo de arte (aos 13 anos iniciou na pintura e gravura), é ainda mais interessado na vida em toda a sua amplitude. Foi músico e arranjador de Ivete Sangalo por 14 anos, mas não chegou a debutar. Em 2006, apresentou ao mundo seu trabalho autoral: Letieres Leite & Orkestra Rumpilezz – homens pretos vestidos de branco, como o Santos de Pelé.
Na Rumpilezz, que completa 10 anos em 2016, Letieres dá vazão às suas especulações e certezas (?) musicais, formando um front em defesa da matriz africana em nossa cultura. O primeiro disco, homônimo, saiu em 2009 e arrancou elogios de gente como Ed Motta, além de abocanhar uma porção de prêmios, inclusive “Melhor CD do Ano (Popular)”, da revista Bravo. Agora, celebrando uma década de estrada, é lançada “A Saga da Travessia”, pelo Selo Sesc, obra que trata de forma jubilosa a diáspora negra e contém uma música em homenagem a Gilberto Gil. “Acho que muita gente vai deixar de curtir a Rumpilezz por causa desse disco”, diz.
Nesta entrevista concedida especialmente ao bahia.ba, o artista fala com a franqueza costumeira sobre diversos assuntos, sem medo de causar desconfortos. “Se Margareth Menezes fosse branca, não existiria Daniela Mercury”, é apenas uma de suas afirmações. “Os grupos que comandaram a música de massa, comandam hoje a chamada música alternativa. Eles vieram pra cá, com o mesmo interesse: concentrar na mão deles o grande capital”, é outra. Mas Letieres não procura a polêmica, como alguns podem pensar, apenas diz o que pensa e parece intentar não acirrar os ânimos, mas tornar as coisas melhores. Praticante de Jiu-Jitsu, o compositor já colaborou com nomes como Lenine, Gilberto Gil, Steven Berstein, Joshua Redman, entre outros, e sem comer carne há mais de 20 anos, tornou-se um peso pesado da música brasileira.
É ele quem começa a entrevista. Só pra variar.
Letieres Leite – …É uma das obrigações do Estado, assim como é cumprir os ditames relacionados à educação, relacionados à saúde, mas também relacionados à cultura. A cultura é um bem público, necessário. As pessoas ligam muito a cultura só ao entretenimento, no fim de semana, e não é. Você manter as tradições culturais de um lugar é você manter a própria identidade do lugar. Ela vai ser vista em qualquer outra situação no futuro…, ou quando você vai pensar naquele lugar, será através de suas ações culturais também. Quando você lembra de algum país, você lembra da música, de aspectos culturais que são fundamentos e são estruturantes da identidade do lugar. É sim uma das funções primordiais do Estado, fomentar e proteger a cultura. O que tá acontecendo é que quando isso passa a estar dentro desse pensamento dos grandes negócios, nós temos que achar soluções criativas, para não cair numa postura uniforme. Sobrepujar isso com atitudes criativas, entendeu? Mas eu não vejo um futuro muito interessante nesse sentido [dos grandes negócios], mas vejo outro futuro muito mais promissor que é o da independência artística mesmo, que é assim: existem hoje meios de produção que fazem com que o artista se mova mais, de forma independente, não dependendo de um empresário, de uma gravadora, de um estúdio, de uma agência de venda do trabalho… não é mais assim. Você sozinho monta seu trabalho hoje e vai trabalhar ele na plataforma da internet e pode fazer com que esse trabalho se comunique com o mundo. Isso é muito interessante! Esse é o assunto que eu quero conversar. Existem vários trabalhos vitoriosos, no mundo inteiro, de êxito artístico e comercial, que foram iniciados e continuados só dentro da plataforma da internet. Desde o Youtube até a venda digital de músicas. Você lançar um CD hoje é quase um contrassenso. Primeiro que quase ninguém tem aparelho de CD. Eu mesmo não tenho, há muito tempo. O computador que eu tenho não tem entrada pra CD. E os modernos, nenhum vai ter. É só pendrive e HD externo… Então, pelo amor de deus, onde é que eu vou lançar minha música? Conte-me aí?
bahia.ba – E por que a Rumpilezz lançou um CD novo, me explique aí você?
LL – Isso é o que eu não sei! (risos) A gente vive uma contradição. Eu mesmo vou pegar o CD e não vou ter onde ouvir. Mas aí, eu já estou dando o próximo passo, negociando com plataformas digitais, pra gente vender no iTunes, vender em sites de venda de música no exterior, se conectar com esse universo. E ainda vou dar 50 passos atrás, que eu tenho como um dos objetivos de comemoração dos 10 anos da Rumpilezz lançar um vinil. O vinil do primeiro disco e do segundo. Não vai ser um vinil duplo, que seria chique demais. Eu queria muito lançar um álbum duplo, mas vou lançar primeiro o novo “A Saga da Travessia” e depois o primeiro disco, “Orkestra Rumpilezz” [Biscoito Fino – 2009]. Então, voltando, eu acho muito salutar essa nova realidade em que o músico tem que saber de tudo em relação ao seu trabalho, diferentemente daquela época em que se tinham empresários e o músico não sabia nem o que estava acontecendo. Agora tem que saber tudo, tudo, todos os trâmites, todos os caminhos. E isso não é mais interessante? É. Dá mais poder a quem faz o trabalho e também faz com que o músico saia daquele lugar só do artista. Que ele se veja também como um trabalhador da arte.
.ba – Agora, falando nos discos em si, o que é que mudou de “Orkestra Rumpilezz” para “A Saga da Travessia”?
LL – Quando eu ouvi o disco novo, eu pensei assim: muita gente vai deixar de curtir a Rumpilezz com esse novo disco. Outro público novo talvez abra, mas acho que muita gente não vai, não vai…
.ba – Vai sentir-se traída esteticamente?
LL – É. E é justamente como eu penso em arte. A arte pra mim não está estática, ela, a qualquer momento pode mudar. Agora, a gente mantém os princípios estéticos da Rumpilezz. A diferença do primeiro para o segundo, eu vou falar: no primeiro disco os toques foram tocados de maneira matricial, mais puros, vamos dizer assim. A minha viagem própria, psicodélica, não estava tão explícita. Eu não me considero assim um re-pre-sen-tan-te da música de matriz africana, eu já sou da consequência, Rumpilezz é consequência, apesar de que nós fomos um pouco mais na matriz, que é dentro do candomblé, onde são preservadas as matrizes que geraram toda a música brasileira. Então, o primeiro disco é didático em relação a isso. Esse não. Nesse eu não uso os toques puros, só em uma música que é dedicada a Gilberto Gil. Esse disco tem uma música composta em um momento em que eu senti que devia homenagear o professor logo, porque estava devendo isso. E o nome da música é “Professor Luminoso”. Não podia deixar de ser um ritmo que, para mim, ele ensinou a muita gente. Inclusive eu me considero aluno dele nessa matéria, que é o ijexá. Gil criou uma estética de tocar o ijexá contemporaneamente que é só dele. Assim como Gerônimo tem outra estética de tocar o ijexá. O nome da música é “Professor Luminoso”, porque nas internas, a gente o chama de professor; e luminoso porque é luminoso mesmo né? Ainda não mostrei a ele não, mas queria muito que ele escutasse. Essa é a única música que tem referência direta na questão rítmica. As outras todas são assim, eu me baseio, mas desconstruo tudo e reconstruo tudo de novo através de superposição de tempos… Então não é mais o toque em seu estado natural. Assim, se eles já não estão em seu estado natural, todo instrumento de sopro também vai pra outro lugar. Então eu acho que agora estou produzindo mais próximo de como era meu desejo inicial.
.ba – Nesse novo disco, então, a sua personalidade aparece mais?
LL – Eu acho. Personalidade como compositor.
.ba – Mas por que, especificamente, você acha que o fã da Rumpilezz pode ser sentir lesado?
LL – Primeiro que muita gente que gosta da Rumpilezz já tinha conhecimento prévio daqueles toques. E, quando ouviam em uma faixa, ouviam em outra, se identificavam logo. A música do seu orixá, por exemplo. Já nesse novo trabalho,isso não vai ser tão possível. Mas o orixá está lá. Só que ele está numa outra camada.
.ba – Outra manifestação do orixá.
LL – É, eu acho que esse disco já é o santo manifestado.

.ba – E por falar em ritmo, de vez em quando aparecem supostos novos ritmos do verão nas rádios. O que você acha dessas criações?
LL – Ninguém inventou nada. Estruturalmente, os toques já estavam aí. Esse negócio de novo ritmo de verão, que eu declarei um dia que me dava urticária e as pessoas ficaram assim ‘pô, você é contra os instrumentos de percussão?’. Não, eu sou contra é alguém dizer que é o novo ritmo do verão. Porque, quando eu cavo, cavo, cavo… eu vejo que aquele ritmo tem 300 anos, é ancestral. O cara deslocou uma nota e diz que inventou uma coisa, entendeu?
.ba – Por exemplo, o “Deboche”, de Luiz Caldas, não era uma invenção?
LL – Tá, vamos fazer assim [cantando e batendo palmas] “Nega do cabelo duro / que não gosta de pentear…”, peraí, para a música. O que é isso aqui? [continua só com as palmas, marcando a célula rítmica: tatá-tá-tá-tá…]. É a clave do [esporte clube] Bahia, né? Tudo bem, vamos deixar “Deboche”, Luiz Caldas aqui paradinho, congela. Vamos agora pegar a menor porção da música dele, que é essa aqui: tatá-tá-tá-tá…, essa clave que é tocada na música toda e que o arranjo segue esse princípio, que o Alfredo Moura sabe disso, ele que tocou na Banda Acordes Verdes e sabe o que eu estou falando aqui. A gente como arranjador segue o princípio rítmico, mesmo intuitivamente. Os mais estudiosos, como o próprio Alfredo, seguem conscientemente. Bom, isso aqui é a clave do Bahia e é a clave que o Ilê Aiyê usa. É a mesma clave, só que mais lento. O cara acelerou e disse que inventou? Não, ele não pode ter falado isso, que Luiz Caldas é um gênio da música e não ia falar. Quem falou foi outra pessoa. Alguém botou na conta dele, mas ele tá me ouvindo e ele sabe que não foi ele. Essa clave inclusive é muito mais antiga que o Ilê, porque o Ilê é de [19]74. 74! Foi em 74 que começou? Se a torcida do Bahia tá tocando isso… Desde quando tem o Bahia?
.ba – O Bahia é de 1931.
LL – A primeira Bamor já tocava essa clave. Os blocos de índio já tocavam isso quando a gente era menino, lá na Rua Ferreira Santos, na Federação. Vários grupos já tocavam isso, que a gente chama de “samba afro”. E essa clave surge de um desenho de candomblé, provavelmente do kabila. A primeira semicolcheia já declara logo.
.ba – Aliás, você defende que toda a música brasileira foi estruturada a partir dos ritmos africanos. Em sua opinião, é dado o devido crédito à fonte?
LL – Quando eu digo que toda música brasileira tem sua origem na música de matriz africana é porque eu não vi nenhum compositor brasileiro sério que tenha uma composição que não fosse referenciada. Você pega Chico Buarque, vai estar, Djavan, Caetano, Clementina de Jesus, Jackson do Pandeiro, Luiz Gonzaga… Então, se toda a composição musical brasileira, na sua estrutura rítmica é baseada no princípio da diáspora negra, por que quando a gente vai estudar e falar dessa música já não se fala dessa referência direta? A sensação que dá é que essas músicas caíram do céu. [cantando] “Essa moça tá diferente…”, de Chico Buarque, isso é uma clave que se você for pesquisando vai chegar lá no candomblé de Angola. Aí você vê Tom Jobim dar uma declaração de que acha que a música brasileira não foi tão organizada, o sistema de claves, como a cubana, a norte americana. Eu penso o contrário. Acho que toda música consequente após a diáspora negra ter acontecido nas Américas, de cima a baixo, sofreu influência muito determinante, porque esse ritmo é muito determinante e faz com que toda a composição sofra influência. O pensamento europeu, a inteligência harmônica europeia, na hora de compor, está subjugada ao ritmo. Quando Tom Jobim troca de acorde, ele troca referenciado pela questão rítmica. Ele não vai dizer, mas é. Eu peguei um disco de Tom Jobim com João Gilberto e caí pra trás quando vi que estava tudo em clave. Eu dei o ISO 9000! Porque tá tudo bonitinho. Toda vez que João atrasa e adianta, não é ao bel prazer. Quem foi que falou isso? Eu vi 500 livros falarem isso. João não atrasa nada nem adianta nada. João segue o rigor das estruturas das músicas de matriz africana. Quando ele atrasa, é na clave. Ele não atrasa em qualquer lugar. Eu sei que isso acontece a nível intuitivo, mas o violão do João é uma prova clara, ele toca a clave muito nitidamente. O que eu sinto falta é as pessoas referenciarem essa origem, que vai dar no candomblé, na música sacra, que foi preservada nessas universidades que são os terreiros.
.ba – E, ainda falando nessas matrizes, em geral se chama violonista de músico, trompetista de músico, músico de músico, e percussionista de percussionista, de uma maneira quase pejorativa, como se não fosse músico, mas uma categoria inferior. Inclusive os cachês costumam ser menores, por quê?
LL – A percussão tá diretamente ligada com o elemento negro. E a gente tem uma dificuldade absurda, quando queremos exemplificar o ser humano brasileiro, de colocar a colaboração do negro nas questões de pensamento elaborado, principalmente na arte. Então, essa dificuldade é geral, vem lá de trás. A música do negro é sempre colocada como diletante, irresponsável… Resumindo, a gente não pode falar nesse assunto sem falar em racismo. As bandas de Salvador, de música negra, no início do Axé Music eram todas formadas por pessoas brancas. Os negros estavam confinados a tocar percussão. E os cachês sempre foram diferentes mesmo, no carnaval etc. Percussionista é como um sub-músico, porque é uma coisa ligada aos negros. Não é a questão dos instrumentos, mas da cultura, de onde vem.
.ba – E na Rumpilezz os cachês são iguais?
LL – Claro. A única diferença é o spalla, que é o cara que vai ensaiar na minha ausência, aí tem um diferencial. Os percussionistas da Rumpilezz têm mais moral do que os outros músicos, inclusive, porque eles andam de terno e o resto de sandálias havaianas e bermuda. Eu já fiz isso mesmo pra provocar esse raciocínio. Por que a percussão tem que ficar na cozinha? A gente trouxe para a sala-de-estar.

“Por que a percussão tem que ficar na cozinha?
A gente trouxe pra sala-de-estar”.


.ba – Ainda sobre racismo e indústria cultural, como foi a história de que numa reunião de bloco falaram que determinado cantor não podia ser contratado por que parecia um macaco?

LL – Sim, falaram mesmo. Numa reunião de um bloco, indicaram um cantor pra ser uma das atrações e, quando falaram o nome… que eu não tenho porque falar aqui o nome, até porque o cara é bonito “comaporra”, é um negão lindão, se eu disser o nome dele você vai cair pra trás, e as pessoas falaram na reunião, de maneira oficial, que não iam contratar porque ele parecia um macaco. E todo mundo deu risada. Eu tive que sair da reunião.
.ba – Mas isso foi um caso isolado ou era um modus operandi?
LL – Houve um embranquecimento no Axé Music, todo mundo sabe disso. Bandas de pagode, eu me lembro que eu ficava perguntando por que trocou o cantor e era pra botar um cantor mais branco. Aí você tem que ter pessoas com resistência, cantores como o próprio Márcio Victor, que na ousadia deles conseguem se impor. Mas, na hora do negócio as concessões acabam acontecendo e todo o grupo do poder econômico, branco, acaba faturando mais do que os negros. Poucos são donos dos seus próprios meios de produção a ponto de dizer que são autossuficientes, financeiramente, nos seus negócios. Geralmente estão subjugados a esses grupos, que são os mesmos que comandaram a música de massa e comandam hoje a chamada música alternativa também. Eles vieram pra cá.
.ba – As pessoas que coordenavam, por exemplo, blocos de carnaval, que mandavam nas rádios, já viram que o filão agora…
LL – Estão migrando pra cá. Eles trocaram a roupa né? Eles não botam a mesma roupa de lá, eles botam uma roupa mais alternativa, foram comprar nas outras lojas, deixaram o cabelo crescer, mas são as mesmas pessoas com o mesmo interesse: concentrar na mão deles o grande capital.
.ba – E essas questões todas estão presentes no tema desse disco novo?

LL – Esse disco tem uma coisa que foi muito mais marcante do que a questão musical, que foi a minha necessidade de abordar um fato histórico que é a saga da travessia, esse fato que eu acho que não é lembrado na educação, nas escolas, que é essa transferência forçada de pessoas livres, como escravas, para virem trabalhar na construção de um continente. Então há muito tempo esse tema está na minha cabeça e eu pensei em fazer alguma coisa artística sobre isso. Eu não consigo pensar a música sem história. Na Rumpilezzinho [projeto de formação de jovens músicos coordenado por Letieres Leite] os meninos estudam música conectada com história diariamente. Então, como eu tenho em minha prática educacional a história tão precisa, eu também tenho na minha prática composicional. E num momento eu tive um estalo, achei esse tema e percebi que é um tema épico. Como eu componho música diretamente, sem utilizar necessariamente um instrumento, eu fui costurando um tema [musical] que não acabava nunca e resultou numa música de 22 minutos, que a gente gravou em três pedaços. Virou uma trilogia: “A Saga da Travessia”. E a onda musical é essa mesma do barco balançando, sempre noturno, obscuro… Eu percebi que fui parar nesse lugar do navio negreiro. A primeira parte é bem melancólica, triste…, você ser forçado a sair de um lugar como escravo. Mas eu pensei isso também numa maneira de júbilo, em que eles sabiam que estavam partindo de uma cultura bem estruturada, poderosa, e que ia se reconstruir. Eu imaginei essas pessoas chegando a Salvador, a ideia do disco é essa. Só que quando o barco chega a Salvador… o disco acaba, a música acaba. “A Saga da Travessia” não pisa em Salvador. “A Saga da Travessia” termina exatamente quando ele para pra ancorar e todos os escravos olham para Salvador e dizem assim: “nós vamos nos reconstruir aí dentro”. Aí um olha pro outro assim e diz: “Meu descendente vai ser Miles Davis”. O outro: “O meu vai ser Pixinguinha”. Entendeu? Eu fiz uma história assim. Esses caras chegaram naquela condição, sem roupa, sem instrumento, e construíram o jazz, o samba, o blues. Tem que se falar mais o quê?
.ba – Músicas assim, longas, têm problema pra tocar na rádio. Como é a sua relação com o mercado?
LL – Todas as ações da sociedade ficaram subjugadas ao poder do capital. E as artes não ficaram de fora disso, não é? A música é um grande negócio e quando você tem um grande negócio tudo fica subjugado ao pensamento do mega sistema financeiro internacional. E cumprindo essas regras. Aí você vê um grupo de reggae da Jamaica que se formatou por negócio: foram pra Londres, diminuíram os tempos das músicas, porque o dub é muito longo pra tocar no rádio. Que é isso? Como é que um cara que é artista de um lugar em que a música é tocada com sete, 15 minutos, ele chama todo mundo, ensaia pra caramba pra cortar pra três minutos porque senão iam chegar lá em Londres e não iriam tocar em lugar nenhum? Eu estou falando de Bob Marley! Não é de qualquer um. Eu, graças a deus, na música instrumental tenho salvaguarda: um disco de John Coltrane que é uma faixa de um lado, uma faixa do outro, uma de 20 minutos outra de… Eu nunca medi tempo pra fazer música de Rumpilezz. Nem vou fazer isso. O único problema que eu tive foi pra tocar no programa de Serginho Groisman, que ele fez, “Letieres aqui a gente tem o tamanho do comercial”, eu disse, porra, lenhou! Vai ter que fazer dois sets sem nenhum comercial no meio, senão eu não vou conseguir tocar música nenhuma minha. Teve reunião de cúpula dentro do programa dele pra resolver. Porque eu disse que não ia fraturar uma música. E já estava tudo pronto pra tocar quando ele perguntou o tamanho da música, esqueceram esse detalhe… Sabe o que aconteceu? Nós tocamos, em vez de quatro músicas, apenas duas. E ele foi danado, ele comprou.
.ba – Voltando só mais um pouco naquela questão de racismo e Axé Music, você acha que se Margareth Menezes e Lazzo Matumbi fossem brancos eles teriam mais projeção?
LL – Seria diferente sim. Se Margareth fosse branca não existiria Daniela Mercury. Daniela Mercury entrou pra ocupar o espaço que Margareth tinha levantado. Margareth levantou a bola, quando foi cabecear, empurraram-na, e botaram Daniela no lugar pra cabecear. Eu estava na época aqui e eu vi.

“Se Margareth fosse branca não existiria Daniela Mercury”.

.ba – Vocês vão lançar o disco em São Paulo. Quando é que vai ter show em Salvador?
LL – Eu estou tentando ver se consigo fazer o mesmo show de São Paulo aqui. Porque nós agora somos do Selo Sesc e fomos convidados pra fazer primeiro São Paulo.
.ba – Vou esperar. Obrigado pela entrevista.
LL – Obrigado também.
FONTE:http://bahia.ba/entrevista/letieres-leite-ja-vi-bloco-recusar-cantor-por-dizer-que-parecia-um-macaco/