quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Fotógrafa especialista em conflitos é presa por desembargador durante julgamento do recurso de Rafael Braga

Na tarde de hoje, durante o julgamento do recurso impetrado pela defesa de Rafael Braga sobre a sua condenação de 11 anos e 3 meses por tráfico e associação, na 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, o desembargador Luiz Zveiter mandou prender a fotógrafa Katja Schilirò que acompanhava a sessão de julgamento.
O caso de Rafael é mais um que segue o modelo habitual do TJRJ de mecanização do encarceramento do povo pobre, do negro e do morador da favela. O fato ocorreu momentos após Zveiter negar o recurso e seguir com a condenação do reú. O ato do Juiz foi considerado pela platéia presente no julgamento como retrógrado e reacionário, já que Rafael Braga sofre com uma condenação explicitamente injusta.
De acordo com informações que recebemos de pessoas que estavam no tribunal, a indignação do povo foi imediata diante de mais uma decisão arbitrária contra uma vida negra da favela. Enquanto gritos de fascista e racista direcionados à Zveiter ecoavam no tribunal, de forma aleatória e arbitrária ele decidiu dar voz de prisão à fotógrafa especialista em conflitos Katja Schilirò, integrante do Coletivo Mariachi e colaboradora da Mídia Independente Coletiva. Ela foi levada algemada para a 5ª DP, na Lapa e posteriormente liberada após assinar um termo circunstancial.
Postagem e alterações no texto sob a responsabilidade do conselho gestor da Mídia Independente Coletiva.
Texto e foto: Kauê Pallone/Fotoguerrilha.

FONTE:http://midiacoletiva.org/fotografa-especialista-em-conflitos-e-presa-por-desembargador-durante-julgamento-do-recurso-de-rafael-braga/

A286 - A Comédia dos Erros (com letra)

A cor da morte: jovens negros são os que mais morrem no ES No Espírito Santo, homicídios de jovens negros acontecem 5,5 vezes mais do que os de brancos. Diferença é a 6ª maior do país, segundo Unesco

Dez perfurações deixaram no corpo de Gustavo da Fonseca Santos as marcas da crueldade. Aos 18 anos, o jovem negro, que trabalhava como cuidador de um doente, foi morto a tiros no último domingo por criminosos que o alvejaram enquanto ele andava por uma das ruas do bairro Colina, em Cariacica. Revoltada, a mãe Ana Cristina Souza da Fonseca, 45, garante que o filho foi vítima de emboscada. “Ele conheceu uma menina pelo Facebook e marcou de se encontrar com ela. Quando chegou, o namorado dela o matou”. lamenta.

A recente morte de Gustavo, bem como o rastro de dor deixado em sua família, é o reflexo mais duro de uma realidade que se revela em números. De acordo com os dados do Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência 2017, enquanto a taxa de homicídios de jovens brancos no Espírito Santo em 2015 era de 25,46 a cada 100 mil habitantes, a de jovens negros era de 139,48.

139,48 jovens negros

Taxa de assassinato no Estado a cada 100 mil habitanteS
Em outras palavras, a população negra do Estado entre os 15 e 29 anos tem 5,5 vezes mais chances de morrer vítima da violência na comparação com jovens brancos. A taxa supera a média do Brasil, em que jovens negros têm 2,7 chances a mais de serem mortos.
Os dados avaliados pelo Fórum Nacional de Segurança Pública e divulgados pela Unesco colocam o Espírito Santo na sexta posição do ranking de Estados em que a diferença da cor da pele tem maior influência sobre o número de homicídios nessa faixa etária.
Para o coordenador do Fórum da Juventude Negra do Espírito Santo (Fejunes), Lula Rocha, apesar de alarmante, a situação revelada pelo estudo não é uma surpresa e já vem sendo motivo de denúncias nos últimos dez anos. “O racismo determina que nossas vidas tenham um peso diferente. Se morressem mais jovens brancos do que negros, a comoção da sociedade e dos governos seria maior”, critica.
Rocha argumenta que o preconceito racial serve de base para a desigualdade, que se acaba se refletindo nos índices de violência. Do mesmo modo, a coordenadora do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (Neab) da Ufes, Patrícia Rufino, diz:
“A vulnerabilidade não começa no estigma social e sim no racial - onde se verifica a exclusão da população negra no acesso e qualidade de bens que garantam uma melhor perspectiva social. A perspectiva de vida da maior parte da população negra, gira em torno do trabalho, e nem sempre este trabalho consegue seguir o curso da qualificação. Não apenas pela negritude, mas pela condição social imposta à essa maioria marginalizada”.
ENFRENTAMENTO
Doutor em Educação e pesquisador no campo dos estudos etnico-raciais, o professor Gustavo Forde acrescenta que a melhoria dos índices está diretamente ligada ao enfrentamento do racismo. Segundo ele, investir em políticas públicas que garantam o acesso e permanência de negros na educação, bem como o acesso à saúde, ao lazer e ao mercado de trabalho é fundamental para que a página de desigualdades seja virada.

25,46 a cada 100 mil

É a taxa de assassinatos de jovens brancos no Espírito Santo.
“Historicamente, essas disparidades são mantidas quando o Estado é ausente. Nas áreas onde vivem a maioria dos negros, chamadas de periferias, as políticas públicas não chegam porque o racismo opera institucionalmente. Faltam direitos básicos, como coleta de lixo, iluminação, pavimentação ou praças e parques”.
Por outro lado, o secretário estadual de Direitos Humanos, Julio Pompeu, observa que, comparados a anos anteriores, os índices no Espírito Santo têm apresentado melhora. “Dos critérios que criam o indicador, o pior é o da morte violenta dos jovens negros. E, ainda que seja uma mudança pequena, está melhorando”.
POLÍTICAS PÚBLICAS
Pompeu destaca que os indicadores são um termômetro para mostrar o resultado de políticas públicas ou a falta delas. E, por essa razão, ele acredita que nas pesquisas seguintes o Espírito Santo vai apresentar um cenário de redução da vulnerabilidade, visto que o programa Ocupação Social terá mais tempo de implantação. “Em 2015, quando foi feita a pesquisa, estava apenas começando. Esperamos que o resultado de 2016 comece a refletir de maneira mais intensa o trabalho que estamos realizando”.
O programa concentra, segundo Pompeu, uma série de ações com foco nos jovens da periferia e em especial das regiões com maior número de mortes violentas. As iniciativas têm três eixos como prioridade: reduzir a evasão escolar, gerar emprego e renda, e desenvolver habilidades socioemocionais.
Atualmente, o Ocupação Social está em 26 regiões de nove municípios: Pinheiros, São Mateus, Colatina, Linhares, Vitória, Vila Velha, Serra, Cariacica e Cachoeiro de Itapemirim. A região mais recente a ser incorporada ao programa foi a do Bairro da Penha, na Capital.
Para 2018, o secretário disse que o principal objetivo é tornar o programa uma lei e, assim, deixe de ser uma política de um governo para ser de Estado, possibilitando sua continuidade em outras gestões.
FONTE:https://www.gazetaonline.com.br/noticias/cidades/2017/12/a-cor-da-morte-jovens-negros-sao-os-que-mais-morrem-no-es-1014110776.html